Se tiveres amor...


Se tiveres amor, caminharás no mundo como alguém que transformou o
próprio coração em chama divina a dissipar as trevas...
Encontrarás nos caluniadores almas invigilantes que a peçonha do mal
entenebreceu, instilando-lhes o hábito da peste, e relevarás toda ofensa
com que te martirizem as horas...
Surpreenderás nas maldizentes criaturas desprevenidas que o veneno da
crueldade enlouqueceu, e desculparás toda injúria com que te deprimam as
esperanças...
Observarás no onzenário a vítima da ambição desregrada, acariciando a
ignomínia da usura em que atormenta a si próprio, e no viciado o irmão
que caiu voluntariamente na poça de fel em que arruína a si mesmo...
Reconhecerás a ignorância em toda manifestação contrária à justiça e
descobrirás a miséria por fruto dessa mesma ignorância em toda parte onde
o sofrimento plasme o cárcere da delinqüência, o deserto do desespero,
o inferno da revolta ou o pântano da preguiça...
Se tiveres amor saberás, assim, cultivar o bem, cada instante, para
vencer o mal cada hora...
E perceberás, então, como o Cristo, fustigado na cruz, que os teus mais
acirrados perseguidores são apenas crianças de curto entendimento e de
sensibilidade enfermiça, que é preciso compreender e ajudar, perdoar e
servir sempre para que a glória do amor puro, ainda mesmo nos
suplícios da morte, nos erga o espírito imperecível à benção da vida eterna.

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